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Em um país de contrastes, como é o caso do Brasil, os números nem sempre servem de argumento substantivo e adjetivo para as decisões empresariais. E isso fica bastante evidente na relação entre o “asfalto” e a favela, ou comunidades – o nome politicamente correto usado para definir estes núcleos populacionais.
É que mesmo com todos os avanços sociais, políticos e econômicos, inúmeros empresários ainda fecham os olhos para este contingente. Uma pena, pois em muitos casos, muitos deixam de ganhar ainda mais dinheiro e ver o seu negócio crescer de forma exponencial, mitigando os riscos associados à concentração de suas vendas ou prestação de serviços em uma determinada faixa de renda ou área geográfica.
Trata-se, acima de tudo, de um gesto equivocado por quaisquer ângulos que observemos, como mostra a extensa pesquisa que deu origem ao livro “Um país chamado favela”, escrito pelo empresário e líder comunitário Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas (CUFA) e Renato Meirelles, sócio-diretor da consultoria Data Popular. O livro foi lançado ontem à noite em São Paulo.
De acordo com pesquisa do instituto, cerca de 12 milhões de moradores das favelas brasileiras têm um poder de compra anual estimado em R$ 56 bilhões.
Diante de números tão portentosos e eloquentes, porque muitas empresas ainda fecham os olhos para este contingente? “Trata-se de um misto de preconceito, falta de conhecimento e incapacidade de enxergar as virtudes Brasil real”, afirma Elias Tergilene, dono do Grupo Uai de shopping centers. Ele comanda, também, negócios na área moveleira (é sócio da gigante italiana Doimo, a maior da Europa). “Enquanto muitos empresários ficam preocupados com a classe A, B ou C, eu me especializei na classe G, de Gente.”
Tergilene diz que sua ascensão (ele chegou a Minas Gerais com a família fugindo da seca no Nordeste) se deve à grande capacidade dos brasileiros em empreender. Especialmente no caso dos de baixa renda. “O futuro do capitalismo brasileiro está no empreendedorismo”, defende. “E quem vai liderar esta revolução são os moradores das comunidades.”
De olho neste potencial, Tergilene está investindo, em parceria com a Favela Holdings, de Celso Athayde, R$ 1,5 bilhão, até 2017, na construção e instalação de 22 projetos de centros populares de comércio. São dois formatos: o Favela Shopping, centros de compras instalados em comunidades, e os camelódromos.
Os processos mais adiantados são de construção, ampliação e/ou requalificação de centros populares em Camaçari e Feira de Santana, ambas na Bahia, onde Tergilene participa de licitações das prefeituras. “São projetos que envolvem cerca de cinco mil empreendedores.” Mais que apenas um local para expor e vender suas mercadorias, estes novos empresários passarão por cursos de capacitação, a cargo do SEBRAE e da Fundação Dom Cabral, e serão formalizados como microempresários.
Apesar de se reconhecer nestas pessoas (ele mesmo começou vendendo esterco no interior de Minas Gerais e foi para a capital, Belo Horizonte, na fase adulta para tentar a sorte como camelô), Tergilene diz que, além do sentido de idealismo, pois se considera um Capitalista Social, ele enxerga nestes empreendimentos uma oportunidade de ganhar muito dinheiro. “Quem sabe não surgem novos Tergilenes e Athaydes nesta turma”?
IstoÉ Dinheiro – Publicado em 26 de agosto de 2014
Link original: http://www.istoedinheiro.com.br/blogs-e-colunas/post/20140808/classe-gente/4477.shtml